sexta-feira, 17 de junho de 2011

Folha do Salgado deixa de circular



*Editorial da Edição n° 239 do Jornal Folha do Salgado


Esta manchete vem sendo postergada já a algum tempo e aos poucos driblada pela coragem e ousadia dos que fazem o Jornal Folha do Salgado. Entretanto, como tudo que é desgastante, um dia cansa e chega ao final. Chegou finalmente o dia de dizer que não é possível continuar.

Duas semanas se passaram, depois da reunião que sacramentou o fim do Jornal, e durante este tempo deveria escrever este editorial. Talvez relutasse em admitir o óbvio, em falar do final. Agora o escrevi em apenas 10 minutos. E além do que aqui está, nada mais há o que dizer.

Iniciamos o Folha do Salgado em 1998, como sempre, um projeto de muitos sonhos e desejos de transformação. De lá para cá, com exceção de um breve período de um ano em que ficou fora de circulação, contamos, com ética, decência e honestidade, a vida e a história desta cidade e alguns fatos relevantes da região. Tudo e sempre, dentro do espírito das saudáveis regras do jornalismo.

O relevante trabalho realizado pelo jornal Folha do Salgado para contar a história da cidade, é algo tão precioso que não tem como avaliar. O jornal escrito é documental, deixa os textos e as fotografias impressas guardadas definitivamente na bagagem do tempo.

O Icó, todavia, por sua pobreza cultural, pouco percebeu esta importância e pouco fez para manter o periódico em circulação. Nós, que sacrificamos tempo e dinheiro para que ele se mantivesse vivo durante estes 12 anos, sempre entendemos bem porque ele deveria existir, e por esta finalidade lutamos até hoje.

Deixamos, em 12 anos de trabalho, as impressões do tempo em que vivemos. Neste tempo, com períodos bastante conturbados, geramos documentos para que no futuro, quando os filhos da educação e da pesquisa quiserem sustentar suas teses sobre o município e sua gente, encontrem a fonte onde poderão beber.

Temos absoluta certeza, que se o Folha do Salgado não existisse, os acontecimentos daqueles tempos estariam definitivamente perdidos, como perdidos ficaram outros tantos momentos da pobre história da terra dos Icós.

Por muitas vezes falamos sobre as dificuldades que temos enfrentado para manter o jornal em circulação, agora não há mais o que comentar sobre estes fatos.

Resta agradecer, de coração escancarado, a todos aqueles que contribuíram para que o Folha do Salgado sobrevivesse durante estes longos e cansativos anos. Assinantes, anunciantes, incentivadores, críticos e leitores. Agradecimento maior ainda aos que dirigiram, editaram, escreveram, fotografaram, diagramaram, venderam, entregaram o nosso jornal.

Todos fazem parte da peça teatral que agora chega ao seu final. É claro que nem todos foram flores que se pode cheirar. Houve ingratidões e até mesmo um processo na justiça do trabalho tivemos que enfrentar.

Mas esta é a parte desonesta e ingrata, sobre a qual não vale a pena falar. O que importa é que continuamos a acreditar na vida, na honestidade, na gratidão e na ética. E por este prisma, quase todos foram flores que se pode cheirar.

Amamos o torrão em que nascemos, porque esta é nossa pátria e sobre ela devemos sempre derramar todo o bem, traduzido em talento, inteligência, educação, competência, empreendedorismo, cultura e arte. Um dia, e espero que não seja tão longe assim, estas virtudes se transformarão em verdades. Aí, encontraremos o caminho que nos falta, com o fraquejar do individualismo e o fortalecimento da coletividade.

Não esperamos pelos louros dos nossos feitos. Icó é muito pobre de história, basta ver quantos icoenses nobres, em virtudes e talentos, foram esquecidos nos anais do tempo e a cidade nem mesmo relembra seus feitos.

O que nos envaidece é o fato de ter contribuído para a boa estatística que atestava que o Icó tinha um jornal escrito. Agora, e por estas razões, nada esperamos de reconhecimento, só nos resta lamentar que a história possa dizer: Icó já teve um jornal.

Finalmente desejo citar um trecho de um verso belíssimo musicado por Milton Nascimento: “A história é um carro alegre, cheio de um povo contente, que atropela indiferente, todo aquele que a negue”.

Getúlio Oliveira
Editor do Folha do Salgado
 

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